UM EXAME CRÍTICO E HISTÓRICO DA ADORAÇÃO ISLÂMICA
Por João Flávio Martinez
O dr. Halley nos informa que
Maomé, quando moço, visitou a Síria e entrou em contato com os cristãos daquela
região, onde se encheu de horror pela idolatria que os tais seguidores de
Cristo praticavam.
1. Parece que o profeta estava à
procura de um Deus mais singular e único. Cansado da idolatria e do paganismo
existentes em suas terras, esse conflito espiritual gerou em seu coração a
sensação heróica de querer ser o “profeta da restauração”: “Eis aqui a religião
de Deus! Quem melhor que Deus para designar uma religião? Somente a Ele
adoramos!” (Surata 2:138).
Os historiadores Knigth e Anglin
também comentam sobre o zelo do islamismo contra a idolatria: “No ano 726 d.C.,
Leão III, imperador do Oriente, assustado com o progresso dos maometanos, cujo
fim conhecido era exterminar a idolatria e afirmar a unidade de Deus, começou,
por interesse próprio, uma cruzada animada contra as adorações das imagens, e o
zelo que mostrou nessa nova empresa logo lhe criou o nome de Iconoclasta, que
significa quebrador de imagem”.
2. As imagens e a Igreja Católica
Apostólica Romana
Quando o catolicismo começou a
aderir às imagens de esculturas e aos desenhos de fatos bíblicos e de santos, a
idéia não era ir contra os ensinamentos da Palavra de Deus, mas implantar uma
didática pragmática para que o povo da Idade Média, leigo e analfabeto, pudesse
aprender mais sobre as histórias bíblicas. O difícil foi conseguir separar a
imagem da adoração idólatra, o que o catolicismo romano falhou miseravelmente
ao dar plena evasão a uma prática tão condenada pela Bíblia Sagrada.
Até mesmo os livros apócrifos
condenam tal prática. Por exemplo, no primeiro Livro de Macabeus é-nos contado
que os judeus preferiram enfrentar a morte e ir contra o decreto do rei grego
Antíoco Epifânio a terem de adorar as imagens do panteão mitológico da Grécia:
“Erigissem altares, templos e ídolos [...] a obrigarem-nos a esquecer a lei e a
transgredir as prescrições” (I Macabeus 1:47-49). Ou seja, a problemática
católica teve início com uma boa intenção: instruir os incautos usando as
imagens.
Nesse ínterim, os bárbaros
“convertidos” ao cristianismo já haviam encontrado os representantes de seus
ídolos em imagens católicas. O comércio dessas imagens e ídolos estava, desde
então, gerando enormes recursos para a Igreja. O procedimento do clero, que
vivia nas trevas da ignorância, sem se preocupar com o que realmente a Bíblia
ensinava, e toda a conjectura dos acontecimentos mostravam que a idolatria
seria a marca registrada da Igreja Romana. Em seu livro, As brumas de Avalon,
Marion Zimmer Bradley relata que a “deusa mãe”, adorada pelos Teutões e Saxões
(germanos), tinha sobrevivido à cristianização na pessoa da mãe de Deus — a
Virgem Maria. Esses povos não tiveram dificuldades em assimilar a deusa Virgem
Maria, pois viam nela a sua adorada “deusa mãe”. Por fim, só restava ao papa
decretar o que já era fato, o que aconteceu em 787 d.C., no segundo Concílio de
Nicéia, quando ele disciplinou a veneração de imagens.
Bem, você deve estar se
perguntando porque estou explicitando algo sobre o catolicismo quando a minha
intenção é falar de islamismo. É que, para nossa surpresa e concepção, o
islamismo passou e está passando por uma transformação parecida: do zelo
iconoclasta maometano ao desvio para a idolatria. Foi justamente isso que
descobri em várias leituras que fiz sobre o mundo islâmico. Sempre tive no
islamismo, devido à minha cultura ocidental, uma religião um tanto paradoxal e
composta de doutrinas bem exóticas, mas não imaginava que tivesse alguma
tendência à prática da idolatria.
Acredito que ídolos e
analfabetismo sejam uma mistura perfeita para a incubação do misticismo
popular, e como nos países muçulmanos a taxa de analfabetismo sempre foi muito
alta, é possível que o islamismo venha seguindo, já há alguns séculos, o mesmo
caminho que a Igreja Romana tomou na Idade Média. Isso não é de se admirar,
porque, como veremos, o islamismo nasceu em meio a um ambiente pagão idólatra –
a Caaba.
O Alcorão condena a idolatria?
Sim! As páginas corânicas são bem
claras em relação a esta questão. A luta contra a adoração de imagens e ídolos
parece ter sido uma das maiores empreitadas do profeta. A seguir iremos
relacionar alguns textos que condenam a prática da idolatria. Gostaríamos que o
leitor observasse que, para o islamismo, acreditar na Trindade também é pecado
de idolatria. Vejamos:
“E quando viu despontar o Sol,
exclamou: Eis aqui meu Senhor! Este é maior! Porém, quando este se pôs, disse:
Ó povo meu, não faço parte da vossa idolatria!” (Surata 6:78).
“Porém, se Deus quisesse, nunca
se teriam dado à idolatria. Não te designamos (ó Mohammad) como seu defensor,
nem como seu guardião” (Surata 6:107).
“Porventura, enviamos-lhes alguma
autoridade, que justifique a sua idolatria?” (Surata 30:35).
“Ó filho meu, não atribuas
parceiros a Deus, porque a idolatria é grave iniqüidade” (Surata 31:13).
“E permanecei tranqüilas em
vossos lares, e não façais exibições, como as da época da idolatria; observai a
oração, pagai o zakat , obedecei a Deus e ao seu mensageiro, porque Deus só
deseja afastar de vós a abominação, ó membros da Casa, bem como purificar-vos
integralmente” (Surata 33:33).
A Trindade como prática idólatra:
“São blasfemos aqueles que dizem:
‘Deus é o Messias, filho de Maria’, ainda quando o mesmo Messias disse: Ó
israelitas, adorai a Deus, que é meu Senhor e vosso. A quem atribuir parceiros
a Deus, ser-lhe-á vedada a entrada no paraíso e sua morada será o fogo
infernal!’ Os iníquos jamais terão socorredores. São blasfemos aqueles que
dizem: ‘Deus é um da Trindade!’, portanto não existe divindade alguma além do
Deus único. Se não desistirem de tudo quanto afirmam, um doloroso castigo
açoitará os incrédulos entre eles” (Surata 5:72-3; grifo nosso).
A sentença para quem pratica a idolatria:
“Mas quando os meses sagrados
houverem transcorrido, matai os idólatras, onde quer que os acheis;
capturai-os, acossai-os e espreitai-os; porém, caso se arrependam, observem a
oração e paguem o zakat, abri-lhes o caminho. Sabei que Deus é indulgente,
misericordiosíssimo” (Surata 9:5; grifo nosso).
Indícios de idolatria em algumas práticas islâmicas
A partir daqui, estaremos
discrimando algumas práticas de adoração islâmicas que se chocam com a teoria doutrinária
exarada no Alcorão. Construiremos esta análise fundamentando-a na concepção de
diversos pesquisadores religiosos e esperamos que as referências citadas nos
possibilitem tecer um julgamento equilibrado da tensão existente no ambiente de
adoração islâmico. Vejamos:
Maomé – um profeta vaticinado por pagãos idólatras
No livro A vida do profeta Maomé,
traduzido por Ibn Ishaq, é declarado: “Rabinos judeus, monges cristãos e
adivinhos árabes prevêem o advento de um profeta...”.
Caaba – a veneração à Pedra Negra
A Caaba é o santuário islâmico
localizado no centro da Grande Mesquita, em Meca. Lugar sagrado
dos muçulmanos, guarda a Pedra Negra, que, segundo a crença islâmica, fora dada
a Adão depois de sua expulsão do paraíso.
Por ter sido levada pelo dilúvio,
a Caaba fora reconstruída por Abraão e seu filho Ismael, que teriam embutido no
ângulo Sudeste do cubo de pedra que formava a casa de Deus a Pedra Negra,
trazida pelo anjo Gabriel. “Os muçulmanos contornavam a Caaba sete vezes,
tocando ou beijando a Pedra Negra ao passarem por ela”.
4. A peregrinação para Meca, ou
Hajj, é um dos pilares do islamismo. Essa viagem ao lugar do nascimento de
Maomé deve ser feita por todo muçulmano pelo menos uma vez na vida, desde que
dotado de condições físicas e econômicas.
Mantran comenta o seguinte sobre a Caaba:
“A partir do século V, Meca ficou
sob o domínio da tribo de Qoraysh, quando um de seus membros, Qosayy, vindo do
norte, eliminou a tribo de Khozaa e teve a habilidade para transformar Meca em
um grande centro de peregrinação, reunindo em um só santuário, a Caaba, as
principais divindades dos Árabes [...] Entre os árabes, essa Pedra Negra,
provavelmente um meteorito, era (e é) objeto de veneração [...] reunindo ali as
grandes divindades árabes, permitindo assim aos homens das caravanas
satisfazerem sua crença numa ou noutra divindade”.
5 (grifo nosso). O prêmio nobel de literatura, dr. Naipaul, corrobora nesse
sentido:
“... A peregrinação a Meca é mais
velha do que o Islã, enraizada no antigo culto tribal árabe e incorporada pelo
profeta às práticas islâmicas: a essa cultura, camada após camada de
história”.
6. O dr. Salim Almahdy também faz a
seguinte observação sobre a Caaba e a Pedra Negra:
“... Também já existia em Meca a
Pedra Negra, por causa da qual as pessoas peregrinavam para Meca. Os peregrinos
beijavam a pedra, prestando culto a Alá por meio dela”.
Todas as evidências fidedignas
mostram que esse lugar foi o centro do paganismo na Arábia, adaptado ao
islamismo pelos fiéis muçulmanos e mantido até hoje na essência de sua
doutrina, onde na prática a Pedra Negra acaba recebendo tanta veneração quanto
Alá.
Alá – mais um ídolo adorado na Caaba?
Para o historiador libanês, Albert Hourani, Alá não passava
de mais um dos deuses e ídolos do paganismo:
“O nome dado a Deus era Alá, já em uso para um dos deuses
locais (e hoje usado por judeus e cristãos de língua árabe como o nome de
Deus)”.
7. Escritores e historiadores que corroboram que Alá era mais
um deus entre o panteão pagão da Arábia:
Dr. Salim Almahdy, escritor e ex-islâmico:
“O islamismo, Alá e grande parte
do Alcorão já existiam antes de Maomé. O pai de Maomé chamava-se Abed Alá, que
significa escravo de Alá [...] A Enciclopédia do islamismo nos fala que os
árabes pré-islâmicos conheciam Alá como uma das divindades de Meca [...]
Segundo a Enciclopédia Chamber’s, ‘a comunidade onde Maomé foi criado era pagã,
com diferentes localidades que tinham os seus próprios deuses, freqüentemente
representados por pedras. Em muitos lugares havia santuários para onde eram
feitas peregrinações. Meca possuía um dos mais importantes, a Caaba, onde foi
colocada a pedra negra, há muito tempo um objeto de adoração [...] Alá era o
deus lua. Até hoje os muçulmanos usam a forma do quarto crescente sobre as suas
mesquitas. Nenhum muçulmano consegue dar uma boa explicação para isso. Na
Arábia havia uma deusa feminina que era a deusa sol e um deus masculino que era
o deus lua. Diz-se que eles se casaram e deram à luz três deusas chamadas as
filhas de Alá, cujos nomes eram Al Lat, Al Uzza e Manat. Alá, suas filhas e a
deusa sol eram conhecidos como os deuses supremos. Alá, Allat, Al Oza e Akhbar
eram alguns dos deuses pagãos...’”(www.ictus.com.br).
Rushdie, autor de Versos satânicos:
“Pensai também em Lat e Uzza, e
em Manat [filhas de Alá] Elas são os pássaros exaltados, e sua intercessão é de
fato desejada [pelos muçulmanos]”
8. Mantran:
“Os árabes do Norte tinham
crenças mais realistas: espíritos, djinns representados por árvore, pedras.
Acreditavam também em divindades, muito numerosas, mas algumas eram veneradas
pela maioria das tribos; as mais importantes entre essas divindades eram três
deusas: Manat, Ozza e al-Lat, por sua vez subordinadas a uma divindade
superior, Alá...”.
9. Mather e Nichols:
“Alá era uma divindade suprema já conhecida dos povos do
Norte da Arábia”.
10. O que Maomé realmente fez foi
substituir o paganismo politeísta por um paganismo monoteísta. Afinal, todas as
evidências comprobatórias e históricas nos apontam para o fato de que Alá era
um ídolo tribal.
Os amigos de Deus
No catolicismo romano é comum a
reza aos “santos” mortos. O católico acredita que esses cristãos, que em vida
fizeram grandes obras de piedade, possam, depois de mortos, ter acesso a Deus e
realizar intercessões espirituais em favor dos vivos que fazem preces em seus
nomes.
Estranhamente, algo parecido
acontece com os muçulmanos. Na teologia islâmica, esses santos especiais são
chamados de “amigos de Deus”. É o que nos conta o dr. Hourani:
“A idéia de um caminho de acesso
a Deus implicava que o homem não era só criatura e servo dele, mas também podia
tornar-se seu amigo (wali). Essa crença encontrava justificativa em trechos do
Alcorão: ‘Ó vós, Criador dos céus e da terra, sois meu amigo neste mundo e no
próximo’ (Surata 12:101).
“Aos poucos, foi surgindo uma
teoria de santidade (wilaya). O amigo de Deus era o único que sempre estava
perto dele, cujos pensamentos estavam sempre nele, e que havia dominado as
paixões humanas que afastavam o homem dele. A mulher, tanto quanto o homem,
podia ser santa. Sempre houvera e sempre haveria santos no mundo, para manter o
mundo no eixo.
“Com o tempo, essa idéia adquiriu
expressão formal: sempre haveria certo número de santos no mundo; quando um
morria, era sucedido por outro; e eles constituíam a hierarquia que eram os
governantes desconhecidos do mundo, tendo o qutb, o pólo sobre o qual o mundo
girava, como seu chefe [...] Os amigos de Deus intercediam junto a ele em favor
de outros, e sua intercessão tinha resultados visíveis neste mundo. Trazia
curas para a doença e a esterilidade, ou alívio nos infortúnios, e esses sinais
de graça (karamat) eram também provas da santidade do amigo de Deus.
“Veio a ser largamente aceito que
o poder sobrenatural pelo qual um santo invocava graças para este mundo podia
sobreviver à sua morte, e podia-se fazer pedidos de intercessão em seu túmulo.
As visitas aos túmulos dos santos, para tocá-los ou orar diante deles, passaram
a ser uma prática complementar de devoção, embora alguns pensadores muçulmanos
encarassem isso como uma invocação perigosa, porque interpunha um intermediário
humano entre Deus e cada crente individual. O túmulo do santo, quadrangular,
com um domo abaulado, caiado por dentro, isolado ou dentro de uma mesquita, ou
servindo de núcleo em torno do qual surgia uma zawiya, era uma feição conhecida
na paisagem rural e urbana islâmica [...] Do mesmo modo como o Islã não
rejeitou a Caaba, mas deu-lhe novo sentido, também os convertidos do Islã
trouxeram-lhe seus próprios cultos imemoriais. A idéia de que certos lugares
eram moradas de deuses ou espíritos sobre-humanos estava generalizada desde
tempos muito antigos: pedras de um tipo incomum, árvores antigas, nascentes que
brotavam espontaneamente da terra, eram encaradas como sinais visíveis da
presença de um deus ou espírito ao qual se dirigia pedidos e se faziam
oferendas, pendurando-se panos votivos ou sacrificando-se animais.
“Em todo o mundo onde o Islã se
espalhou, tais lugares se tornaram ligados aos santos muçulmanos, e com isso
adquiriram um novo significado [...] Alguns dos túmulos dos santos tinham-se
tornado centros de grandes atos litúrgicos públicos. O aniversário de um santo,
ou um dia especial ligado a ele, era comemorado com uma festa popular, durante
a qual muçulmanos do distrito em torno ou de mais longe ainda se reuniam para
tocar o túmulo, rezar diante dele e participar de vários tipos de festividades
[...] Esses santuários nacionais ou universais eram os de Mawlay Idris (m.
791), tido como fundador da cidade de Fez; Abu Midyan (c. 1126-97) em Tlemcem,
na Argélia Ocidental; Sidi Mahraz, santo padroeiro no delta egípcio, objeto de
um culto em que os estudiosos viam uma sobrevivência em nova forma do antigo
culto egípcio de Bubastis; e ‘Abd al-Qadir, que deu nome à ordem qadirita, em
Bagdá [...] Com o decorrer do tempo, o profeta e sua família passaram a ser
vistos na perspectiva da santidade. A intercessão do profeta no Juízo Final,
acreditava-se comumente, atuaria para a salvação daqueles que tinham aceito a
missão dele.
“Maomé passou a ser encarado como
um wali, além de profeta, e seu túmulo em Medina era um local de prece e
pedidos, a ser visitado por si ou como uma extensão do hadj. O aniversário do
profeta (mawlid) tornou-se uma ocasião de comemoração popular; essa prática
parece ter começado a surgir na época dos califas fatímidas, no Cairo, e estava
generalizada nos séculos XII e XIV [...] O santo, ou seus descendentes e os
guardiães de seu túmulo, podiam lucrar com sua reputação de santidade; as
oferendas dos peregrinos davam-lhe riquezas e prestígios [...] Alguns exemplos
disso foram observados nos tempos modernos: na Síria, o khidr, o misterioso
espírito identificado com São Jorge, era reverenciado em fontes e outros
lugares santificados; no Egito, coptas e muçulmanos comemoravam igualmente o
dia de santa Damiana...”.
11. Em seu livro Entre os fiéis, o
dr. Naipaul comenta a respeito da veneração que um paquistanês desenvolveu por
um desses santos:
“Disse ele: ‘Existem categorias
de fiéis. Alguns querem dinheiro, outros desejam uma boa vida no além [...] Eu
desejo encontrar Alá. Você só pode fazer isso através de um médium. Meu murshid
é o meu médium. Eu desejo amar meu murshid em meu coração. Alá está com meu
murshid. E quando meu murshid entra em meu coração, Alá está comigo [...] Só
posso conhecer Alá através do meu médium. O murshid não era o pir ou chefe da
comunidade, como eu pensei [...] era o santo cuja tumba havia visitado”.
12. A Bíblia desaprova a intercessão
dos santos católicos, dos “amigos de Deus” muçulmanos e de qualquer outra
espécie de entidade. Somente a Jesus Cristo, o Filho de Deus, a Bíblia tem
outorgado esse direito de interceder pelos homens: “Porque há um só Deus, e um
só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” (1Tm 2.5).
A veneração aos imãs
“Maomé, Fátima (filha do profeta)
e os imãs eram vistos como encarnações das inteligências por meio dos quais o
Universo foi criado. Os imãs eram vistos como guias espirituais no caminho do
conhecimento de Deus: para os xiitas, vieram a ter a posição que os ‘amigos de
Deus’ tinham para os sunitas”.
13. Procissões
Algo comum no catolicismo é uma
romaria ou procissão em devoção a algum santo canonizado pela Igreja Romana. O
que poucos sabem é que no Islã os tais “amigos de Deus” também recebem a mesma
homenagem, principalmente entre os xiitas.
O dr. Naipaul, em uma de suas
viagens por países islâmicos, fez uma observação a esse respeito quando
visitava o Irã em 1979, no auge da Revolução Islâmica impetrada por Khomeini.
Revolução que, devido ao rigor religioso, punia todas as pessoas, inclusive
estrangeiras, que desrespeitassem as normas do Alcorão.
Vejamos o que ele nos informa:
“O islamismo tem seus próprios
mártires. Uma vez por ano, desfilam seus mausoléus alegóricos pelas ruas; os
homens ‘dançam’ com pesadas luas crescentes, ora balançando as luas de um
jeito, ora de outro; os tambores batiam, e às vezes havia combates rituais com
varas. As brigas de vara eram uma simulação de uma antiga batalha, mas a
procissão era de luto e comemorava a derrota naquela batalha [...] A cerimônia
— da qual participavam tanto hindus como muçulmanos — era essencialmente xiita,
e a batalha tinha a ver com a sucessão do profeta, que fora travada no Iraque,
que o homem especificamente pranteado era o neto do profeta”.
14. Quanto à procissão, a teologia
bíblica só tem uma resposta, tanto para os católicos como para estes grupos
específicos de islâmicos: “Congregai-vos, e vinde; chegai-vos juntos, os que
escapastes das nações; nada sabem os que conduzem em procissão as suas imagens
de escultura, feitas de madeira, e rogam a um deus que não pode salvar” (Is
45.20).
Superstições islâmicas
“Mais difundida, na verdade
praticamente universal no islamismo, era a crença em espíritos e a necessidade
de descobrir um meio de controlá-los. Os jinns eram espíritos com corpos de
vapor ou chama que apareciam aos sentidos, muitas vezes sob forma de animais, e
podiam influenciar as vidas humanas; às vezes, eram maus, ou pelo menos
travessos, e, portanto, era necessário controlá-los.
“Também podia haver seres humanos
com poderes sobre as ações e vidas de outros, ou devido a alguma característica
sobre a qual não tinham controle — o olho mau — ou pelo exercício deliberado de
certas artes, que podiam despertar forças sobrenaturais. Era um reflexo
distorcido do poder que os virtuosos, os amigos de Deus, podiam adquirir por
graça divina. Mesmo o cético (escritor islâmico) Ibn Khaldun acreditava na
existência da bruxaria, e que certos homens podiam descobrir meios de exercer
poder sobre outros, mas achava isso repreensível. Havia uma crença geral entre
os muçulmanos em que tais poderes podiam ser controlados ou contestados por
encantos e amuletos colocados em certas partes do corpo, disposições mágicas de
palavras e figuras, sortilégios ou rituais de exorcismo ou propiciação, como o
zar, um ritual de propiciação, ainda difundido no vale do Nilo”.
15. Segundo o historiador Mantran, o
próprio Maomé, quando começou a receber a revelação de Alá e do Alcorão,
acreditou estar possuído por jinns e até pensou em cometer suicídio.
16. O que percebemos com todas essas
conjecturas e colocações é que algumas vertentes do Islã, em determinadas
localidades, além de terem adotado práticas idólatras do paganismo, abraçaram
as superstições dos povos nômades da Arábia, e isso ainda permeia a religião do
profeta com toda a sua força mística.
Equilibrando os fatos
Não queremos aqui desqualificar o
Islã como mais uma religião monoteísta. Assim como não é justo classificar o
cristianismo bíblico como idólatra, também não é razoável qualificar o
islamismo alcorânico como tal. Porém, tanto o “cristianismo” expressado pelos
católicos romanos, como o “islamismo” expressado pelos muçulmanos xiitas, em
alguns pontos se desviam dos padrões sagrados exarados pelos Escritos Sagrados
que arrogam professar. Estamos apenas fazendo um exame, de maneira
generalizada, sobre pontos comuns no seio teológico da religião islâmica.
Aliás, esse é um debate e preocupação que também tem afetado e gerado certa
tensão entre os próprios pensadores islâmicos.
O que descrevemos e compilamos
nesta matéria é uma censura contra uma religião que, apesar de levantar uma
bandeira contra a idolatria e as superstições, abraça em seu rol de adeptos
fragmentados grupos que na verdade se condenam em suas próprias práticas
religiosas.
Sabemos que idolatria é adoração
ou veneração aos ídolos ou imagens, quando usada em seu sentido elementar. Mas
também pode indicar a veneração ou adoração a qualquer objeto, santo, pessoa,
instituição, ambição, etc, que tomem o lugar de Deus, ou que diminuam a honra
que lhe devemos prestar. Assim, idolatria consiste na adoração a algum falso
deus, ou a prestação de honras divinas a certas entidades. E quando o islâmico
venera a Pedra Negra, faz peregrinação a Caaba, reza ao pé do túmulo de um
“santo” (pedindo sua intercessão), está, na verdade, praticando idolatria, pois
invoca um intercessor que não é o Deus revelado na Bíblia.
A própria recitação, na qual o
indivíduo tem de declarar para se tornar muçulmano, já é comprometedora em si
mesma: “Não há outro Deus além de Alá e Maomé é o mensageiro de Alá”. Se Alá
fosse de fato o Deus bíblico, não haveria necessidade de invocar um outro nome
junto ao seu. A Bíblia diz: “E em nenhum outro há salvação; porque debaixo do
céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, em que devamos ser salvos” (At
4.12). A salvação é só para aquele que invoca o nome do único Senhor: “Porque,
se com a tua boca confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração creres que
Deus o ressuscitou dentre os mortos, será salvo” (Rm 10.9).
Facções islâmicas
Historicamente, o islamismo tem
sido marcado pelo surgimento de movimentos, grupos e correntes de maior ou
menor envolvimento político, de linhas fundamentalistas (conservadora) ou
moderna. Cada uma delas com uma tendência de interpretação dos conceitos
islâmicos. São eles: Os sunitas: subdividem-se em
quatro grupos principais, cada um deles com uma escola de interpretação da
sharia.
17; hanafitas, malequitas, chafeitas e hambanitas. São os seguidores da
tradição do profeta Maomé, continuada por All-Abbas, seu tio. Calcula-se que
84% dos muçulmanos sejam sunitas. Para eles, a autoridade espiritual pertence à
comunidade.
Os xiitas: também possuem sua
própria interpretação da sharia. Seu nome deriva da expressão “shi at Ali”,
partido de Ali, que foi marido de Fátima, filha de Maomé. Seus descendentes
teriam a chave para interpretar os ensinamentos do Islã.
18. Os sufistas: enfatizam a relação
pessoal com Deus e praticam rituais que incluem danças e exercícios de
respiração para atingir um estado místico. São membros praticantes do sufismo
os faquires da Índia e outras regiões da Ásia, e os dervixes; da Turquia. Vejamos algumas divergências
doutrinárias entre os sunitas e xiitas:
Sobre a intercessão entre Alá e
os seres humanos
19. Sunitas: acreditam que ninguém
pode atuar como intercessor entre Alá e os seres humanos. “Diz: a Alá pertence
exclusivamente o direito de garantir intercessão. A Ele pertence o domínio dos
céus e da terra. No fim, é para Ele que todos serão retornados” (Surata 39:44).
20. Xiitas: para os muçulmanos
xiitas, os doze imames; podem interceder entre a humanidade e Alá: “...os muçulmanos
xiitas devem conhecer seu imame de modo a serem salvos, e os imames, assim como
os profetas, claro, podem e intercedem pelos crentes perante deus na hora do
julgamento...” (Nasr 1987, 261).
Sobre o papel e a condição dos
imames dos dias atuais
21. Sunitas: para eles os imames
xiitas atuais (por exemplo, os aiatolás); são humanos sem quaisquer poderes
divinos, considerados apenas como muçulmanos virtuosos. Já os “doze imames” são
particularmente respeitados por sua relação com Ali e sua esposa Fátima, a
filha de Maomé. Os sunitas acreditam que Ali e seus dois filhos, Hassan e
Hussein, foram altamente respeitados pelos três primeiros califas e
companheiros de Maomé. Os sunitas também consideram herético imputar a seres
humanos atributos de natureza divina tais como infabilidade e conhecimento de
todos os assuntos temporais e cósmicos.
22. Xiitas: acreditam que os imames
de níveis mais altos dos dias atuais (aiatolás) recebem sua orientação e
iluminação espiritual diretamente dos “doze imames”, em contato contínuo com
seus seguidores na terra todos os dias por meio de líderes espirituais
contemporâneos. Os aiatolás, portanto, desempenham um papel mediador vital. Por
causa de seu papel espiritual, os aiatolás não podem ser designados pelos
governantes, mas apenas pelo consenso de outros aiatolás.
Notas:
1 Manual bíblico, Editora Vida
Nova, São Paulo, SP, 1991, p.679.
2 História do cristianismo, CPAD,
Rio de Janeiro, RJ, 2001, p.97.
3 P. 33.
4 Uma história dos povos árabes,
Hourani, A., Editora Cia. das Letras, São Paulo, SP, 2000, p. 161.
5 Expansão muçulmana, Editora
Pioneira, São Paulo, SP, 1977, p. 55.
6 Entre os fiéis, Editora Cia.
das Letras, São Paulo, SP, 2001, p. 145.
7 Uma história dos povos árabes,
Editora Cia. das Letras, São Paulo, SP, 2000, p. 33.
8 Editora Cia. das Letras, São
Paulo, SP, p.114.
9 Expansão muçulmana, Editora
Pioneira, São Paulo, SP, 1977, p. 52.
10 Dicionário de religiões,
crenças e ocultismo, Editora Vida, São Paulo, SP, 2000, p. 231.
11 Uma história dos povos árabes,
Editora Cia. das Letras, São Paulo, SP, 2000, p. 167-9, 197.
12 P. 196.
13 Uma história dos povos árabes,
Editora Cia. das Letras, São Paulo, SP, 2000, p. 191.
14 Entre os fiéis, Editora Cia
das Letras, São Paulo, SP, 2001, p. 21.
15 Uma história dos povos árabes,
Editora Cia. das Letras, São Paulo, SP, 2000, p. 211-2.
16 Expansão muçulmana, Editora
Pioneira, São Paulo, SP, 1977, p. 59.
17 Também grafada como Charia, é
o código de ética, que reforça as doutrinas e as práticas do Alcorão.
18 Monge muçulmano, mendicante,
que vive em rigoroso ascetismo.
19 Religiosos muçulmanos que
fizeram voto de pobreza.
20 São considerados descendentes
da família do profeta Maomé.
21 Líderes religiosos xiitas.
22 Representante de Alá, seu
porta-vos e líder do povo. Os quatro primeiros – Abu bakr, Omar, Otmã e Ali –
são designados “Califas guiados corretamente” porque não há objeção por parte
dos muçulmanos concernente às respectivas alegações que eles fizeram de ser os
sucessores de Maomé.
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